segunda-feira, 24 de março de 2008

FANTÁSTICO FAZENDO EXELENTE REPORTAGEM SOBRE DENGUE



Vítimas indefesas da dengue

Em julho do ano passado, o doutor Dráuzio Varella fez uma série de reportagens sobre os perigos da dengue. Uma delas alertava que as crianças eram as maiores vítimas da doença. Menos de um ano depois, a angústia virou realidade.
Em julho do ano passado, o doutor Dráuzio Varella fez uma série de reportagens sobre os perigos da dengue. Uma delas alertava que as crianças eram as maiores vítimas da doença. Menos de um ano depois, a angústia virou realidade. No Rio de Janeiro, a doença atinge 85 pessoas por hora. A maioria, crianças.
“Há uma revolta muito grande de saber que o meu filho, com saúde, com disposição, uma criança tão boazinha, foi vencido por um mosquito em pleno século 21”, acusa Paulo Roberto Evaristo, que perdeu o filho Daniel, de oito anos.
A dengue no Rio virou novamente uma epidemia.
“A criança também é um ser mais vulnerável. Então, em geral, nesses casos, nós temos uma maior gravidade dos casos de dengue e uma maior letalidade”, explica Paulo Marchiori Buss, presidente da Fiocruz.
No ano passado, começou em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Depois foi para Terezina, no Piauí. Este ano, está no Rio de Janeiro. A geografia da dengue acompanha o descaso de cada um de nós - com água parada no quintal, ou com a incompetência das autoridades.
“Ele começou a ter febre, muita febre e ficou muito cansado”, recorda Paulo Roberto Evaristo, pai de Daniel.
No dia seguinte, ainda com febre e vomitando, Daniel foi levado pela avó a uma clínica particular da Tijuca, Zona Norte do Rio. Ele saiu de lá com um diagnóstico e nenhuma dúvida.
“Eu cheguei a perguntar para a médica se não era dengue, mas ela disse que não, que era somente uma virose”, recorda Maria da Conceição Evaristo, avó do Daniel.
“O Daniel tinha uma total inespecificidade. Ele tinha febre com menos de 24 horas e um episódio de vômito que não configura nenhum outro sintoma”, justifica Guilherme Sargentelli, diretor médico hospital da Prontobaby.
“Eu entendo que, às vezes, há dificuldade de diagnosticar que seja uma dengue. Mas o que não pode é descartar isso”, diz Paulo Roberto.
“O médico atendeu, disse que deveria ser um resfriado, porque não tinha nenhum sintoma de dengue. Voltamos para casa e a febre foi se agravando, se agravando, não baixava”, lembra Edineide Souza, mãe de Daniel.
A dengue não é brincadeira. É uma virose grave, que pode levar a morte. Por isso, é muito importante saber reconhecer logo a doença. Devemos suspeitar de dengue em todos os casos de febre de aparecimento repentino, acompanhada de pelo menos dois dos seguintes sintomas:
- Dor de cabeça- Dor atrás dos olhos- Dores musculares- Dores nas juntas- Prostração- Vermelhidão na pele
“Ele está vomitando, está tendo 40 graus de febre, mas mandaram a gente embora”, comenta a mãe de Vitor, Elisama Patrícia, em frente ao hospital.
Diante da suspeita de dengue, todo médico tem obrigação de fazer os exames recomendados na cartilha do Ministério da Saúde. Além do exame físico, ele deve pedir o exame de sangue, o hemograma com sorologia para dengue. É obrigatório também fazer a prova do laço.
Esse exame é barato e fácil de fazer. É fundamental porque permite avaliar a queda do número de plaquetas e a possibilidade do aparecimento da forma hemorrágica – a complicação mais perigosa da doença.
“Eles fizeram o exame de sangue e foi diagnosticado dengue hemorrágica porque as plaquetas estavam em 23 mil”, conta a mãe de uma criança.
Preste atenção aos sinais quando o quadro se agrava:
- Dores abdominais fortes e contínuas- Vômitos persistentes- Tontura ao levantar- Sangue nas fezes ou na urina- Mãos e pés azuladas- Pulso rápido- Agitação ou moleza- Diminuição do volume da urina- Queda súbita da temperatura do corpo- Dificuldade para respirar
A presença de qualquer desses sintomas indica a necessidade de internação hospitalar urgente.
“Eu sentia muita dor na minha barriga, dor nas contas”, conta Taís Souza.
“Deve ser uma virose, a gente pensou”, relembra a avô de Daniel.
O menino foi mandado de volta pra casa, com uma receita prescrita pela clínica: um remédio para enjôo, outro para a febre e um soro para hidratação oral.
“É tão triste você pegar a agenda e ver a última aula que ele assistiu. E depois mais nada. Acabou”, emociona-se Paulo Roberto.
Enquanto nós deixarmos os mosquitos proliferarem em nossas casas e as autoridades públicas tratarem a dengue com tanta irresponsabilidade, as epidemias acontecerão.
É difícil acabar com a dengue. Mas acabar com as mortes por dengue é facílimo. Basta ter atendimento médico adequado. É absurdo morrer de dengue em pleno século 21.

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