quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Mercado Livre em alta

"Perfil do e-consumidor vai além do óbvio", diz diretor do Mercado Livre
Em entrevista ao Correio, Helisson Lemos fala sobre o crescimento do setor e da maturidade do consumo on-line no país
Fernando Braga
Publicação: 15/08/2013 20:14 Atualização: 15/08/2013 20:14

"Não vivemos um boom de vendas on-line, mas sim um boooooooooom que se estende há algum tempo", diz, entusiasmado, o diretor-geral do Mercado Livre no Brasil, Helisson Lemos. O motivo da animação, é claro, vem do espantoso desempenho apresentado pelo setor nos últimos anos, que ignora crises e desconfianças, e mostra que a atividade ganha cada vez mais maturidade no país. Em 2012, o e-commerce brasileiro teve uma alta de 20% no faturamento, alcançando R$ 22,5 bilhões. Nos últimos cinco anos, o setor atingiu uma média de 29,8% de crescimento e viu o número de consumidores passar de 13,2 milhões para 43 milhões.

Desde o início das operações do Mercado Livre no Brasil, no início de 1999, Lemos acompanhou de um lugar privilegiado a evolução do comércio eletrônico. Viu de perto o surgimento das primeiras lojas virtuais, a bolha das empresas ".com" até vivenciar o exponencial crescimento da atividade nos últimos anos. "É um mercado que já está maduro, mas que ainda tem muito o que crescer", pontua. A aposta é baseada em dados. De acordo com o Ibope Media, 44% da população do país ainda não tem acesso à internet. Além disso, mesmo com a evolução acelerada do e-commerce no Brasil, apenas um terço dos internautas têm o costume de fazer compras na web, segundo dados do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). "Ainda existe muita oportunidade a ser explorada", acredita Lemos.

Você está há 14 anos no Mercado Livre e acompanhou de perto diversos momentos do setor. Como avalia o atual cenário do e-commerce no país?

Sentimos o impacto positivo do comércio eletrônico há alguns anos e ele segue crescendo. Espera-se que neste ano o setor cresça entre 23% e 24%. Para se ter uma ideia, o Mercado Livre comercializou 20 milhões de itens nos útlimos três meses, num volume que alcançou US$ 1,7 bilhão, faturando US$ 112 milhões. Então, a fase é excelente do mercado é excelente. Já somos o 12° maior site do Brasil e um dos 10 maiores sites de compras do mundo. Acredito que o mercado esteja maduro, sim. Em 1999, quando começamos, apenas 1% da população brasileira tinha acesso a internet. Hoje esse número chega a 45%. Ainda falta muito, o que revela a oportunidade que existe. Outro fator que aponta para a maturidade é a maior adoção de dispositivos móveis, que vem crescendo bastante nos últimos anos.



Áreas como livros, CDs, games, eletrônicos já se consolidaram no mundo virtual. Na sua opinião, quais são os próximos setores que irão despontar no e-commerce?

Historicamente, os produtos mais comercializados eram os de informática. Hoje, a balança está muito melhor distribuída entre telefonia, acessórios para veículos, roupas e acessórios, saúde e beleza. Essas duas categorias apareciam apenas depois das 10 primeiras posições e agora já estão na quinta e na sexta colocações. Isso mostra que o perfil de consumo do brasileiro já avança para além do óbvio. Só mercados muito maduros têm essas categorias como as principais. Então apostamos muitos em produtos de moda e de itens de saúde e beleza. Também acreditamos que os produtos relacionados a esportes e utensílios para o lar podem crescer bastante, uma vez que são muito forte no exterior.

O senhor acredita que o brasileiro é um empreendedor digital?

Somente em 2012 tivemos 17 milhões de compradores e 6 milhões de vendedores. Temos centenas de casos de sucessos de pessoas que vendem on-line. Um delas é o da própria Netshoes (site de vendas de produtos esportivos), que começou a vender no site e hoje cresceu e criou o próprio site. De acordo com um estudo da consultoria Nielsen, mais de 145 mil pessoas vivem de vender no Mercado Livre. Não tenho dúvida de que o brasileiro é um empreendedor digital. E agora com o (programa do) microempresário individual, as pessoas estão tendo mais acesso ao crédito. Eu costumo dizer que o dinheiro acelera o crescimento de um lojista, mas a falta dele não o freia.
O Mercado Livre começou oferecendo transações entre pessoas físicas, mas ganhou robustez com a entrada de pessoas jurídicas. Qual é a porcentagem de vendas de produtos novos e de produtos usados do site?

Em 2002 a gente deixou de ser leilão para migrar para o modelo de preço fixo, que é o que acabou predominando no Brasil. De lá pra cá, o site evoluiu e hoje tem 97% dos anúncios no formato preço fixo e apenas 3% na modalidade de leilão. Antes, a maioria dos usuários vendia apenas um produto, que por sua vez era usado. Hoje, 80% dos itens comercializados são novos e ofertados em grande quantidade. Em 2004 anunciamos o Mercado Pago, que é um intermediador e que passou a dar muito mais segurança nas transações.

Qual a importância do Brasil para o Mercado Livre?

Entre 50% e 60% das métricas operacionais e financeiras do site vem do Brasil. O país é foco da operação da companhia. Dos 90 milhões de usuários que a companhia tem, um pouco mais da metade vem do país.

Quando os sites de compra coletiva começaram a operar no Brasil foram registrados muitos problemas e muitas dessas empresas encabeçaram o ranking de reclamações do Procon. O senhor acredita que esses problemas, de alguma forma, atingiu a reputação das marcas que atuam no e-commerce do país?

Acredito que em todo início de serviço existe uma fase de adequação, de adaptação. E o que aconteceu com os sites de compras coletivas foi que eles precisaram ser mais cautelosos em relação aos seus fornecedores cobrando uma melhor qualidade de serviço. Quando os problemas foram detectados, os ajustem foram feitos. Esse tipo de coisa acontece, principalmente quando se lida com grande uma escala. No entanto, é preciso olhar com cuidado, porque houve muitos casos negativos, mas ninguém sabe, em termos percentuais, o que eles representaram. Na verdade, o comércio eletrônico tem muito a agradecer aos sites de compras coletivas, porque eles trouxeram, nos últimos três anos, uma nova classe consumidora ao setor. Muitas pessoas fizeram a sua primeira transação comercial on-line a partir desses sites.

A internet no Brasil é uma das mais caras do mundo. Como o governo poderia ajudar o setor?

É preciso estimular o consumo de produtos que permitem o acesso a tecnologia, como computadores (e seus acessórios) e dispositivos móveis. Além, é claro, é importante baixar as tarifas de conexão à internet, que ainda são muito caras. São questões estruturais e com uma melhoria nessas condições todos que atuam na web acabam se beneficiando.

A popularização de aparelhos móveis tem sido refletida nas compras on-line?

Aproximadamente 10% das nossas visitas são feitas a partir de dispositivos móveis, sendo que 8,5% das transações já acontecem a partir de smartphones ou de tablets. Então, muita gente, antes de fazer uma compra física, acaba consultando o site antes na intenção de para ver alguma opinião e até checar dados dos produtos


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