Por Ricardo Brandt,enviado especial a Curitiba, Julia Affonso e Fausto Macedo
Atualizado em 19.03
A defesa do ex-ministro José Dirceu entregou à Polícia Federal cópia de seu passaporte que mostra que ele fez 108 viagens a 28 países. Os destinos mais frequentes foram Venezuela e Portugal, com 16 viagens para cada. Na sequência estão EUA (14 vezes) e o paraíso fiscal do Panamá (8).
A maior parte dos deslocamentos ocorreu quando Dirceu já havia deixado a Casa Civil do governo Lula. O passaporte foi entregue pelos advogados do ex-ministro para comprovar que os serviços contratados pelas empreiteiras Galvão Engenharia, OAS e UTC Engenharia – sob suspeita de integrarem cartel na Petrobrás – “foram prestados regularmente pela empresa JD – Assessoria e Consultoria, principalmente em relação àqueles prestados no âmbito internacional”.
José Dirceu. Foto: Dida Sampaio/Estadão
A JD Assessoria e Consultoria é do ex-ministro e de um irmão dele. A força-tarefa que investiga esquema de corrupção na Petrobrás suspeita que Dirceu fazia lobby para o cartel de empreiteiras que se instalou na estatal petrolífera para assumir o controle de contratos bilionários.
O lobby seria disfarçado em contratos de consultorias que nunca existiram. Por meio dessa empresa, segundo suspeitam os investigadores da Operação Lava Jato, Dirceu teria recebido valores ilícitos desviados da Petrobrás.
Em 2008, Dirceu abriu uma filial da JD Assessoria e Consultoria Ltda no Panamá. Muitos dos alvos da Lava Jato, como os delatores Pedro Barusco (ex-gerente de Engenharia da Diretoria de Serviços da Petrobrás), Julio Camargo (lobista de empreiteira) , o doleiro Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás) tinham offshores no Panamá para movimentar contas fora do Brasil.
Na terça feira, 17, o empreiteiro Gérson de Mello Almada, vice presidente da Engevix Engenharia – preso desde 14 de novembro de 2014 – afirmou à Justiça Federal que foi procurado por Dirceu. O ex-ministro, segundo ele, lhe ofereceu serviços de lobby em Cuba, no México, no Peru e na África.
Almada afirmou que Dirceu “tinha ótimo relacionamento, abrir as portas, mas não resolvia”. Ele disse que fez duas doações para a campanha de Zeca Dirceu (PT/PR), filho do ex-ministro. A defesa do ex-ministro informou que a JD Assessoria e Consultoria, sediada em São Paulo, atua desde 2006 “assessorando empresas brasileiras e estrangeiras, sobretudo no mercado externo”.
Em 9 anos de atuação, segundo a defesa, a JD Assessoria prestou serviços a mais de 50 empresas no universo de quase 20 setores da economia, como comércio exterior, comunicação, telecomunicações, logística, tecnologia cia informação, construção civil, além de vários ramos da indústria, como a de bebidas, de bens de consumo, farmacêutico e insumos elétricos.
COM A PALAVRA, O EX-MINISTRO-CHEFE DA CASA CIVIL JOSÉ DIRCEU
Por meio de sua assessoria de imprensa, o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) esclareceu que a JD Assessoria e Consultoria “nunca estruturou qualquer operação no Panamá”. Dirceu destacou que o pedido de abertura de filial naquele país “sequer chegou a ser registrado naquele país”. O pedido, informa a assessoria do ex-ministro, foi revogado “por decisão da própria empresa, que seguiu os trâmites da legislação brasileira”.
O ex-ministro anotou, ainda por sua assessoria, que fez cerca de 120 viagens ao exterior a trabalho, percorrendo cerca de 30 países, com frequentes viagens a Portugal, Venezuela, Estados Unidos, Peru, Panamá e República Dominicana. “Destaca apenas o Panamá colmo ‘paraíso fiscal’, colocando em suspeição a licitude das viagens do ex-ministro, leva a uma leitura enviesada da atuação da JD Assessoria e Consultoria no mercado externo”, ressalta.
Sobre o relacionamento com a empreiteira Engevix Engenharia, o ex-ministro assinalou. “Durante a vigência do contrato fez viagens a Lima, no Peru, para tratar de interesses da Engevix, fato também confirmado pelo empresário Gérson Almada.”
LEIA A INTEGRA DA NOTA DE ESCLARECIMENTO DA JD ASSESSORIA E CONSULTORIA, DO EX-MINISTRO JOSÉ DIRCEU
“A JD Assessoria e Consultoria ressalta que o ex-executivo da Engevix, Gerson Almada, confirmou em seu depoimento que nunca conversou sobre Petrobrás com o ex-ministro e que Dirceu nunca fez pedido à empresa para doações eleitorais. Almada também afirmou à Justiça que o contrato com a JD teve o objetivo de prospecção de negócios no exterior, sobretudo Peru e Cuba.
De 2006 a 2013, o ex-ministro José Dirceu fez cerca de 120 viagens ao exterior a trabalho, percorrendo cerca de 30 países – com frequentes viagens a Portugal, Venezuela, Estados Unidos, Peru, Panamá e República Dominicana. Destacar apenas o Panamá como “paraíso fiscal”, colocando em suspeição a licitude das viagens do ex-ministro, leva a uma leitura enviesada da atuação da JD no mercado externo.